Aldeia Velha é um espetáculo que pretendeu conceber uma apresentação teatral para um espaço museológico, o que implica tanto a mobilização das competências fundamentais ao trabalho de actor, como o cuidado com todo o enquadramento inerente ao acervo histórico e ao espaço arquitectónico.
Constituiu-se igualmente como desafio a escrita de um texto para teatro a partir de um conto muito significativo de Manuel da Fonseca, O Largo, imbuído de um arguto espírito neorrealista. Para o autor, o professor de teatro e ator António Gambóias “o teatro não pode deixar de ser uma arte interventiva, quis problematizar nos dias de hoje, numa região envelhecida e empobrecida, temas que afinal são de sempre e nos confrontam com a própria pergunta de Manuel da Fonseca: não estaremos em presença de um mundo vivo de gente já morta?”
O final é de uma crueza desconcertante, pois a visita de um jovem casal à “aldeia dos velhos”, habitada por dois ou três idosos faz estabelecer o contraste entre o encantamento dos jovens urbanos relativamente à força das origens e da terra com a perceção da impossibilidade de constituir vida naqueles locais. Como diz o texto de António Gambóias: “Quando se acaba com os modos de vida das pessoas (Como as escolas, os centros de saúdes, os postos de correios) não se pode esperar que estas continuem com força para resistir e para sonhar. Esta Aldeia é muito bonita para visitar, mas agora não passa de uma aldeia velha. Vamos embora para casa”. Um sinal dos tempos, cada vez mais difíceis, que nos convida a refletir sobre o papel das nossas aldeias do interior no desenvolvimento da nossa economia, da nossa cultura e, sobretudo, do nosso ser enquanto cidadãos.
Ficha técnica:
Autoria e encenação: António Gambóias.
Interpretação: Ana Oliveira, António Gambóias, Diogo Vaz, David Pateira, Tatiana Cabral e Rita Araújo.
Operação de luz e som: Ricardo Sabino.
Agradecimentos: Câmara Municipal de Faro, Escola Secundária Pinheiro e Rosa, Museu Regional do Algarve.
Imagens:
