As figuras estáticas do museu ganharam vida e ensinaram aos visitantes deste espaço de relíquias algarvias um segredo bem guardado: quando ao património se junta a imaginação, estamos a construir cidadania.

Quem, ao visitar o genuíno Museu Regional do Algarve no último fim de semana, tivesse entrado na ala da reconstituição da casa algarvia de Olhão pela noitinha, teria visto.

Aldeia Velha foi um trabalho da Companhia DoisMaisUm, produzido pela Associação Cultural Música XXI, em parceria com o Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa. É um espetáculo de teatro que pretende cumprir um duplo objetivo: conceber uma apresentação teatral para um espaço museológico, mas também atender e honrar todo o enquadramento inerente ao acervo histórico e ao espaço arquitetónico. As figuras estáticas que por lá dominam, encherem-se de vida e de palavras, saudando os visitantes com um tocante texto da autoria de António Gambóias. Este projeto experiencia-se em torno da ideia de museu vivo, posto que apresenta um espectáculo no qual são retratados modos de vida, afetos, medos e questionamentos políticos a partir de um enquadramento sociológico da região algarvia em plena ditadura.

A narrativa desenvolve-se em torno da venda do taberneiro, que fica no largo, verdadeiro centro de encontro de todas as personagens: o contrabandista, as raparigas que ainda lavam a roupa no rio, a mulher que se mudou para um arraial da pesca do atum em busca de melhores condições, a mulher do taberneiro que lê as cartas a quem não sabe ler, a velha senhora, que acompanha, sempre com palavras sábias, a vida e as mutações da aldeia. O final devolve uma nota de esperança às aldeias abandonadas, através do seu resgate como aldeias ecológicas e pedagógicas. Para o espectador ficará viva a memória de um texto duro sem deixar de ser cativante, que enuncia a vida das populações do interior antes de terem sido votadas ao abandono.

Aldeia Velha tem a interpretação de Ana Cristina Oliveira, Ana Isabel Baptista, Bruno Filipe, Catarina Silva, Joana Coelho, Vasco Coelho e Tatiana Cabral. A assistência de encenação foi de Luna Ruivo.

Este espectáculo foi apoiado pela Direção Regional da Cultura do Algarve e pela Câmara Municipal de Faro. Estará em cena nos dias 31 de outubro, 3, e 5 de novembro às 21h00 e 6 de novembro às 18h00, sempre no Museu Regional do Algarve.

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